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Em uma publicação recente, discutimos o "mapeamento de jornada" como uma ferramenta para melhorar as experiências dos clientes no setor de saúde. Nesta semana, compartilhamos pensamentos sobre "design thinking", uma abordagem descrita como "uma maneira centrada no ser humano de ...

Efeitos da pandemia por Covid-19 no setor de Celulose e Papel

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Em uma publicação recente, discutimos o "mapeamento de jornada" como uma ferramenta para melhorar as experiências dos clientes no setor de saúde. Nesta semana, compartilhamos pensamentos sobre "design thinking", uma abordagem descrita como "uma maneira centrada no ser humano de ...

(foto: Bracell/Divulgação )

As projeções de crescimento da economia global em 2020, revistas a partir dos efeitos da pandemia por Covid-19, são alarmantes no curto prazo. Dados da Consensus Economics, combinados as estimativas de longo prazo da OCDE e da AFRY, mostram uma queda acentuada na geração de riquezas, que deve ficar negativa em 4% este ano. Todos os maiores mercados amargarão perdas significativas, com exceção da China, que hoje aponta para um crescimento do PIB de 1,9%, bem abaixo do índice de 6,7% registrado em 2016 e que foi o menor crescimento registrado das duas últimas décadas.

A Europa Ocidental, por exemplo, deve encolher 8% este ano, enquanto os países da América do Norte terão um PIB negativo de 6,4%. No caso da América Latina, o tombo estimado é de 4% e, observada de forma isolada, a maior economia do bloco, o Brasil, deve encolher ainda mais, com queda do PIB entre 6% e 10% em 2020.

A pandemia catalisou tendências globais, com impactos estruturais e permanentes. A digitalização e o trabalho remoto cresceram nas empresas; o ensino a distância tenta preencher a lacuna que o isolamento social impôs, e estamos vendo o comércio eletrônico avançar rapidamente em diversos setores. Ou seja, são todas tendências que impactam, de alguma forma, o consumo de papel.

No setor de celulose e papel, a pandemia criou impactos temporários, mas também acelerou mudanças estruturais. A demanda por papel de imprimir e escrever, que já vinha caindo rapidamente nos últimos anos, se acelerou, e com ela foi reduzida a oferta de aparas brancas ao mercado. O segmento de tissue foi impactado positivamente por conta do aumento da demanda por produtos de higiene pessoal.

Houve também um aquecimento do mercado de embalagens devido a maior demanda por produtos considerados essenciais, como os alimentos.

Mas ainda pairam incertezas quanto à demanda total de celulose de mercado nesse ano – a principal queda viria do grande impacto negativo causado pela queda da demanda de papéis para impressão. Em queda desde meados de 2018, a rentabilidade dos produtores de celulose teve as margens ainda mais pressionadas no último trimestre do ano passado. O setor corre para se ajustar por meio do aumento do preço, com a redução de produção e o menor número de projetos no pipeline em 2020-2025, ainda mais porque os estoques de celulose estão acima da média histórica, mesmo depois do aumento dos embarques no final do ano passado. Some-se, que a demanda por fibras têxteis permanece fraca, fazendo com que parte da capacidade de celulose solúvel esteja disponível para produção alternativa de celulose para o mercado de papel, e isso enfraquece o equilíbrio geral do mercado.

Nos últimos meses de 2020, espera-se que o preço da celulose de fibra curta (BHKP) na China apresente uma pequena recuperação, como reflexo do reaquecimento da economia local após a fase mais aguda do surto da Covid-19. Isso poderá ocorrer caso a economia mundial se recupere, gerando assim o aumento da produção e consumo de papéis, com consequente menor ociosidade das fábricas, e da redução de estoques mundiais. Nesse contexto, em abril, a produção de papel pela China aumentou em 6%, na comparação com o mesmo período do ano passado.

Já no Brasil, a produção de celulose de mercado deve superar os 20 milhões de toneladas em 2020, e a produção de celulose solúvel de eucalipto deve continuar a crescer nos próximos anos. Os investimentos previstos em novas unidades de produção têm como objetivo atender ao mercado externo, em particular a China, que já há alguns anos superou a Europa como principal destino da celulose nacional, e cujas importações continuarão a crescer. Atualmente, três projetos de celulose estão em implantação no mercado brasileiro: o da Lenzing/Duratex (MG), o da Bracell (SP) e o Puma II Klabin (PR), este último integrado com a produção de kraftliner.

O cenário também é positivo para o papel tissue.  Ao ser declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como pandemia global, em março, a Covid-19 gerou pânico inicial na população brasileira, que correu para comprar e estocar produtos considerados essenciais. Muitos deles desapareceram dos pontos de venda nos primeiros dias, como foi o caso do papel sanitário, mas a situação foi rapidamente equacionada, porque existe capacidade instalada, em função dos investimentos em modernização que os fabricantes de tissue realizaram nos últimos cinco anos.

Portanto, uma boa notícia para o setor tissue é que não há risco de desabastecimento. E a outra é que, com a pandemia, o consumo de tissue deve crescer em torno de 4,5% este ano, em comparação aos 3,3% registrados em 2019. Isso porque o consumo de papéis sanitários tende a aumentar, de forma sistemática, depois da crise, estimulado por mudanças de hábitos de higiene, como, por exemplo, a substituição dos secadores de mãos elétricos pelas toalhas de papel.

Se confirmada, esta projeção recoloca o setor no ritmo registrado antes da crise econômica de 2014, demonstrando que o consumo do mercado brasileiro ainda pode crescer mais e que há espaço para produtos de maior valor agregado. Por outro lado, o consumo de tissue “away-from-home”, por parte do comércio em geral e do setor de serviços, como hotéis, bares e restaurantes, deverá ter uma recuperação mais lenta, acompanhando o ritmo de retomada gradual das atividades, até atingir um padrão de crescimento próximo ao das vendas de papéis sanitários, papel toalha e guardanapos de papel para residências e hospitais.

O setor de embalagens, do mesmo modo, foi influenciado pela pandemia. Dados da AFRY mostram uma queda de 70% na demanda por embalagens para produtos não essenciais, como vestuário, por exemplo. Em contrapartida, cresceram os pedidos de embalagens para itens considerados essenciais, incluindo embalagens para alimentos e bebidas, produtos farmacêuticos, higiene e limpeza, como reflexo do aumento das vendas, da necessidade de ter esses bens estocados em prateleiras e da grande quantidade de embalagens utilizadas em produtos essenciais.

Outro setor impactado pelos efeitos da pandemia foi o de papelão corrugado. As vendas vinham crescendo desde junho do ano passado, sofreram uma ligeira queda em abril, mas apesar disso, o setor deve continuar aquecido até o fim do ano, muito em função da substituição do consumo de alimentos fora de casa pelo delivery, e também pela substituição de parte do comércio de portas abertas pelo e-commerce.

A produção da indústria local de papelão corrugado deve ser impulsionada ainda pela forte desvalorização cambial do real frente ao dólar, pois o aumento do preço do papel em reais tem levado o mercado consumidor a ampliar o estoque de embalagens, ainda que essa estocagem possa ser reflexo da incerteza quanto à regularidade da entrega de matérias-primas ocorrida nos primeiros meses do ano. Ainda assim, paira um otimismo no setor, e o mercado brasileiro deve acompanhar o crescimento global de papelão corrugado a partir de 2021.

Já no mercado de aparas, apesar de o consumo aparente de papel não ter aumentado significativamente no Brasil na última década, o consumo cresceu entre 2011 e 2019, ultrapassando as 5 milhões de toneladas no ano passado. Contudo, mesmo com o aumento do consumo de aparas pelos mercados de tissue e embalagens, a demanda total tende a ser menor nos próximos dois anos. Embora haja um movimento preventivo de formação de estoques em toda a cadeia, como forma de se precaver contra a desvalorização do real, que influencia no aumento do preço, a oferta de aparas tende a diminuir no curto prazo. É que a disponibilidade de aparas caiu pela metade, dado que a infraestrutura de coleta, voltada principalmente às redes de comércio, escritórios e indústria, praticamente parou a partir de março, com o fechamento de shoppings, lojas de rua, redução da atividade da indústria automotiva e das importações de bens de consumo.

O mercado de celulose e papel, portanto, apresenta muitas variáveis que estão e podem seguir alterando o comportamento das vendas, em níveis diferentes de acordo com o segmento. De qualquer forma, nem tudo no mundo da pandemia é de perspectivas negativas. Caberá ao próprio mercado de consumo ditar algumas tendências, que já se esboçam, e que influenciarão o desempenho desses mercados.

Fonte: Revista do Papel.

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